quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Documentário sobre Pajelança

No mês de janeiro deste ano, durante viagem que realizei ao Espírito Santo, aproveitei para gravar algumas entrevistas com indígenas da região. Os depoimentos foram coletados para a produção de um novo documentário sobre pajelança, que será intitulado de "Sabedoria da Mata: Pajelança e Espiritualidade Indígena".

A pajelança é um conjunto de práticas e manifestações culturais e religiosas, originárias dos povos indígenas brasileiros. Essa espiritualidade pode ser encontrada em duas formas principais, a pajelança indígena, representada pelos rituais dos índios, e a pajelança cabocla, que são práticas religiosas mais ecléticas, encontradas comumente no norte e nordeste brasileiro.

Para entender melhor a pajelança indígena, fui ao município de Aracruz, no litoral norte do Espírito Santo, localizado a oitenta e três quilômetros de Vitória. No local encontrei diversas reservas indígenas, onde os nativos ainda lutam para manter vivas suas práticas, crenças e cultura. Na reserva indígena existem sete aldeias indígenas das etnias Tupinikim e Guarani.

Para compreender melhor a pajelança, fui ao distrito de Santa Cruz à busca do pajé guarani Tupã Kwaray, da Aldeia guarani Boa Esperança (Tekoa porã). Após conversar com o pajé, segui rumo à aldeia de Caieiras Velhas, que abriga índios da etnia Tupinikim. Em Caieiras Velhas, recebi a notícia de que o pajé havia falecido há pouco tempo, e fui conversar com sua viúva, Maria da Penha, que relatou um pouco de seu aprendizado a partir da convivência com o marido.

Mesmo com o esforço para manter viva a cultura e a religiosidade indígena, muito já foi perdido, principalmente após o contato de alguns índios com a religiosidade dos brancos, que às vezes, apresenta características e dogmas que colaboram para a exterminação das tradições religiosas originais da cultura indígena. 

O documentário que estou produzindo é uma forma que encontrei para compartilhar um pouco sobre a rica tradição da pajelança, que ainda é pouco conhecida ou mal interpretada pela maioria das pessoas. Confesso que tive um pouco de dificuldade no momento da coleta de alguns depoimentos, dificuldades essas geradas a partir da relação exploratória e depredatória imposta aos índios durante anos pelo "homem branco". Em determinado momento da busca por entrevistados, cheguei até a ter uma conversa meio tensa com o cacique de uma aldeia, que demonstrou muita indignação por conta de pessoas que exploram os indígenas e difundem uma imagem negativa a respeito dos mesmos. Mas no fim consegui um material razoável com o pajé Tupã e com a dona Maria, que em breve compartilharei por aqui.

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